Texto jornalístico
O que é um texto jornalístico? Todos os textos de um jornal
são jornalísticos? Quais textos de jornal são utilizados como material de
estudo nas aulas de História? Como é possível contribuir para o aluno ler além
da notícia?
Em geral, um texto jornalístico tem por finalidade divulgar
notícias, fatos, informações por meio de tratamento escrito, oral, visual e
gráfico nos veículos de comunicação (jornais, revistas, rádio, televisão e
Internet). É um tipo de texto que depende da coleta, redação, edição e
divulgação de informações ou temas escolhidos entre aqueles que interessam ao
público, tendendo a assumir formatos e construções atraentes para este.
Nem todo texto jornalístico pode ser considerado notícia. No
entanto, a função prioritária dos jornais é noticiar. Assim, são freqüentes nos
jornais os textos-notícia, que apresentam acontecimentos atuais. É uma característica
das notícias centrar-se nos novos fatos, sem necessariamente ter a preocupação
de reconstituir seus antecedentes. As notícias dependem de repórteres,
profissionais envolvidos em coletar informações e produzir reportagens e
entrevistas. Eles tendem a ter como finalidade apresentar ao leitor, com
objetividade, o fato em si, o local onde ocorreu, as pessoas nele envolvidas e
o que o explica. Classicamente, as notícias respondem às seguintes questões: “o
quê”, “quem”, “onde”, “como” e “por quê”.
Além das notícias (reportagens e entrevistas), são
considerados textos jornalísticos artigos dissertativos ou opinativos redigidos
por colunistas, articulistas, comentaristas e cronistas, que escrevem ou não
com base nos acontecimentos recentes a serem divulgados. A opinião do jornal,
que pode ser parcial, é apresentada sem assinatura no editorial e corresponde
em geral às idéias da empresa ou da equipe de redação. Resumos e anúncios de
notícias estão presentes em textos curtos, como nas chamadas da primeira
página, nas legendas de fotos, nos títulos das reportagens e nas manchetes.
Importantes escritores brasileiros, como Rachel de Queiroz,
Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Machado de Assis e Carlos Drummond de
Andrade, escreveram para jornais. Alguns deles tinham colunas semanais. Artigos
de historiadores, filósofos, geógrafos, sociólogos e economistas também podem
ser encontrados com freqüência em cadernos especiais. Outros exemplos de textos
publicados em jornais são cartas de leitores, propagandas, anúncios, horóscopo,
sinopses de filmes, peças de teatro e novelas, palavras cruzadas, charges,
caricaturas, quadrinhos, que embora circulem neste veículo não são considerados
textos jornalísticos.
Os jornais são importantes fontes históricas por sua periodicidade,
por apresentarem dados que favorecem a inserção dos acontecimentos em contextos
históricos mais amplos, uma vez que contêm informações diversificadas da época,
e por serem encontrados em muitos centros de documentação. Hoje em dia, os
grandes jornais têm mantido seus acervos disponíveis em meios eletrônicos, como
CDs e Internet. Como em outras fontes documentais, os textos jornalísticos
inserem-se social, política e economicamente no contexto da sociedade que os
produziu. Assim, é preciso estabelecer suas inter-relações históricas e
identificar suas funções sociais, seus interesses econômicos, seus vínculos
político-ideológicos e seu papel na história da imprensa.
Esses textos são moldados também de acordo com as tradições
consolidadas em suas formas de comunicação e linguagem e em outras
particularidades, como tamanho, projeto gráfico e história.
Apesar do princípio de objetividade dos textos
jornalísticos, o uso deles para estudos históricos requer cuidados na
identificação de sua seleção, organização e interpretação dos fatos. Um exemplo
histórico conhecido na imprensa brasileira foi a inclusão de notícias de
protestos contra o regime militar no caderno de “Polícia”, em vez de no de
“Política”.
A confrontação de jornais com funções sociais e interesses
políticos distintos exemplifica também a necessidade de conhecer sua história.
Textos publicados em um jornal sindical, em pasquins ou em
jornais de grande circulação podem assumir versões muito
divergentes em relação ao mesmo evento. Assim, para que o aluno leia um jornal
como bom leitor, precisa contar com um aprendizado que envolva conhecimentos
capazes de provocar questionamentos quanto à organização da publicação, ao
local do texto no caderno e na página, à função do texto, à autoria, ao estilo,
ao esforço de objetividade, aos comentários e à identificação de opiniões, de
compromissos sociais e políticos e de filtros de interpretação.
Ao trabalhar com texto jornalístico em sala de aula, o
professor de História deve, então, ter a preocupação de analisá-lo em relação
tanto ao contexto no qual foi produzido como aos conteúdos em estudo.
São várias as possibilidades de agregar a notícia a
determinado conteúdo histórico. Vejamos um exemplo:

O texto anterior é uma notícia atual que anuncia uma
melhoria da situação da educação no Brasil, ressaltando, porém, que ainda
existem 15 milhões de analfabetos. O professor de História pode relacioná-lo ao
fato de que atualmente muitos políticos propõem projetos de melhoria da
educação e, então, questionar os alunos na busca de elos históricos. Por
exemplo: quem tinha acesso à educação no Brasil Colônia e no Império? Quando
teve início a preocupação com o analfabetismo no Brasil? Quem podia votar no
Brasil Colônia? Quais eram os requisitos para ser eleitor? Quando os
analfabetos conquistaram o direito de votar? Por que a educação é uma das
prioridades nos discursos políticos da atualidade? Portanto, nas aulas de
História, a notícia pode estabelecer relação com temas como a invenção da
escrita e a tecnologia da informação ou ser um material para debater o analfabetismo
como problema social.
De modo geral, trabalhar com texto jornalístico possibilita
aos alunos:
• desenvolver a competência leitora e escritora, utilizando
fatos do cotidiano que estão circulando na mídia, portanto atuais;
• trabalhar de forma contextualizada, levantando hipóteses e
questionamentos sobre a complexidade da sociedade em que vivemos, buscando
soluções para os problemas emergentes, compreendendo sua inserção histórica;
• ampliar seu repertório sobre o portador do texto-notícia –
Por que ler jornais? Qual a importância da leitura de um jornal?;
• ter contato com diferentes mídias – no jornal, na revista
e na Internet, lemos a notícia; na TV e no rádio, ouvimos a leitura do jornalista;
• identificar os diferentes posicionamentos das notícias e
construir um posicionamento individual – Qual a relevância do que está sendo
noticiado? Quando uma notícia é publicada na primeira página? O que significa
estar na primeira página? Isso interfere na leitura? O procedimento de trabalho
direto com a manchete, sem ler o texto, permite que o professor faça o
levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos e o que ainda
não sabem, possibilitando intervenções mais adequadas. Essa
situação desperta neles o interesse em descobrir o assunto de que de fato o
texto trata, ativando diferentes conhecimentos.
Assim, retomando o exemplo, diante da leitura da manchete, é
possível questionar: de que fala o texto? O que é analfabetismo? Onde
encontramos textos como esse? Por quê? A informação do texto é verdadeira ou
não? Quem é o autor do texto? Que época o texto retrata? Com base na manchete,
que idéia o autor vai desenvolver no texto? O autor está falando do
analfabetismo de que lugar?
Na leitura da reportagem, é importante cada estudante ter
cópia do texto para acompanhar a leitura, que pode ser feita com pausas para
questionamentos: o que significa a palavra “Rio” em destaque? Quem são Irany e
Karine? Que formação elas têm?E Pablo Gentile, quem é? Por que ele foi
consultado? E Eduardo Pereira Nunes? O queé IBGE? Baseadas em quais fontes as
autoras apresentam as informações? O que significa o ponto em negrito (sinal
gráfico) no final da matéria? Que tipo de representação há no texto, além da
escrita convencional? Por que o primeiro mapa está todo pintado e os outros
apenas algumas partes? Por que a representação gráfica está dividida em seis
desenhos menores? De que tratam as colunas? Essas e outras questões, durante a
leitura compartilhada com os alunos, são importantes para que eles estabeleçam
relações entre o que diz o texto, o que diz a manchete, o que sabiam antes, os
conteúdos históricos trabalhados em sala de aula, as palavras desconhecidas
(vocabulário), os gráficos e os mapas, levando-os a identificar vínculos e sentidos
que as autoras tentaram dar ao texto e a necessidade ou não de complementação com
pesquisas em outras fontes.
Tais procedimentos contribuem para que os estudantes possam:
• trabalhar de forma mais independente com o texto (intermediado
por um ou mais colegas), sistematizando e organizando o pensamento e,
conseqüentemente, ampliando seu conhecimento em relação à temática abordada;
• identificar quais foram os novos conhecimentos adquiridos
na leitura;
• trocar impressões com os outros colegas;
• reconhecer suas próprias dificuldades/facilidades de
leitura;
• organizar as idéias do texto e as suas por meio da
escrita.
Em uma situação diagnóstica em relação à compreensão dos
alunos a respeito do que diz o texto, é possível fazer perguntas de localização
de informações, de interpretação e de opinião. Por exemplo: eles são capazes de
colher informações do texto? Conseguem extrair dele o conceito de analfabeto
funcional? Sabem dizer qual a falta de instrução mais acentuada na região Nordeste,
qual a opinião do professor Pablo Gentile sobre o analfabetismo e qual região
do Brasil apresenta o maior índice de analfabetos na faixa etária de 15 a 17
anos? Conseguem interpretar o texto identificando o que o professor Pablo
Gentile quis dizer com “inclusão exclusiva” e por que não seria possível
cumprir no próximo ano a meta do governo federal de erradicar o analfabetismo
de pessoas com 15 anos ou mais de idade? Sabem expressar sua opinião a respeito
do assunto, se concordam ou não com a reportagem de que há necessidade de
reestruturar o Programa Brasil
Alfabetizado ou sugerir ações para a redução do índice de
analfabetismo no Brasil?
Referencial de expectativas para o
desenvolvimento da competência leitora e escritora: caderno de orientação didática
de História / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2006.
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