segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Texto jornalístico



Texto jornalístico

O que é um texto jornalístico? Todos os textos de um jornal são jornalísticos? Quais textos de jornal são utilizados como material de estudo nas aulas de História? Como é possível contribuir para o aluno ler além da notícia?
Em geral, um texto jornalístico tem por finalidade divulgar notícias, fatos, informações por meio de tratamento escrito, oral, visual e gráfico nos veículos de comunicação (jornais, revistas, rádio, televisão e Internet). É um tipo de texto que depende da coleta, redação, edição e divulgação de informações ou temas escolhidos entre aqueles que interessam ao público, tendendo a assumir formatos e construções atraentes para este.
Nem todo texto jornalístico pode ser considerado notícia. No entanto, a função prioritária dos jornais é noticiar. Assim, são freqüentes nos jornais os textos-notícia, que apresentam acontecimentos atuais. É uma característica das notícias centrar-se nos novos fatos, sem necessariamente ter a preocupação de reconstituir seus antecedentes. As notícias dependem de repórteres, profissionais envolvidos em coletar informações e produzir reportagens e entrevistas. Eles tendem a ter como finalidade apresentar ao leitor, com objetividade, o fato em si, o local onde ocorreu, as pessoas nele envolvidas e o que o explica. Classicamente, as notícias respondem às seguintes questões: “o quê”, “quem”, “onde”, “como” e “por quê”.
Além das notícias (reportagens e entrevistas), são considerados textos jornalísticos artigos dissertativos ou opinativos redigidos por colunistas, articulistas, comentaristas e cronistas, que escrevem ou não com base nos acontecimentos recentes a serem divulgados. A opinião do jornal, que pode ser parcial, é apresentada sem assinatura no editorial e corresponde em geral às idéias da empresa ou da equipe de redação. Resumos e anúncios de notícias estão presentes em textos curtos, como nas chamadas da primeira página, nas legendas de fotos, nos títulos das reportagens e nas manchetes.
Importantes escritores brasileiros, como Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, escreveram para jornais. Alguns deles tinham colunas semanais. Artigos de historiadores, filósofos, geógrafos, sociólogos e economistas também podem ser encontrados com freqüência em cadernos especiais. Outros exemplos de textos publicados em jornais são cartas de leitores, propagandas, anúncios, horóscopo, sinopses de filmes, peças de teatro e novelas, palavras cruzadas, charges, caricaturas, quadrinhos, que embora circulem neste veículo não são considerados textos jornalísticos.
Os jornais são importantes fontes históricas por sua periodicidade, por apresentarem dados que favorecem a inserção dos acontecimentos em contextos históricos mais amplos, uma vez que contêm informações diversificadas da época, e por serem encontrados em muitos centros de documentação. Hoje em dia, os grandes jornais têm mantido seus acervos disponíveis em meios eletrônicos, como CDs e Internet. Como em outras fontes documentais, os textos jornalísticos inserem-se social, política e economicamente no contexto da sociedade que os produziu. Assim, é preciso estabelecer suas inter-relações históricas e identificar suas funções sociais, seus interesses econômicos, seus vínculos político-ideológicos e seu papel na história da imprensa.
Esses textos são moldados também de acordo com as tradições consolidadas em suas formas de comunicação e linguagem e em outras particularidades, como tamanho, projeto gráfico e história.
Apesar do princípio de objetividade dos textos jornalísticos, o uso deles para estudos históricos requer cuidados na identificação de sua seleção, organização e interpretação dos fatos. Um exemplo histórico conhecido na imprensa brasileira foi a inclusão de notícias de protestos contra o regime militar no caderno de “Polícia”, em vez de no de “Política”.
A confrontação de jornais com funções sociais e interesses políticos distintos exemplifica também a necessidade de conhecer sua história. Textos publicados em um jornal sindical, em pasquins ou em
jornais de grande circulação podem assumir versões muito divergentes em relação ao mesmo evento. Assim, para que o aluno leia um jornal como bom leitor, precisa contar com um aprendizado que envolva conhecimentos capazes de provocar questionamentos quanto à organização da publicação, ao local do texto no caderno e na página, à função do texto, à autoria, ao estilo, ao esforço de objetividade, aos comentários e à identificação de opiniões, de compromissos sociais e políticos e de filtros de interpretação.
Ao trabalhar com texto jornalístico em sala de aula, o professor de História deve, então, ter a preocupação de analisá-lo em relação tanto ao contexto no qual foi produzido como aos conteúdos em estudo.
São várias as possibilidades de agregar a notícia a determinado conteúdo histórico. Vejamos um exemplo:

O texto anterior é uma notícia atual que anuncia uma melhoria da situação da educação no Brasil, ressaltando, porém, que ainda existem 15 milhões de analfabetos. O professor de História pode relacioná-lo ao fato de que atualmente muitos políticos propõem projetos de melhoria da educação e, então, questionar os alunos na busca de elos históricos. Por exemplo: quem tinha acesso à educação no Brasil Colônia e no Império? Quando teve início a preocupação com o analfabetismo no Brasil? Quem podia votar no Brasil Colônia? Quais eram os requisitos para ser eleitor? Quando os analfabetos conquistaram o direito de votar? Por que a educação é uma das prioridades nos discursos políticos da atualidade? Portanto, nas aulas de História, a notícia pode estabelecer relação com temas como a invenção da escrita e a tecnologia da informação ou ser um material para debater o analfabetismo como problema social.
De modo geral, trabalhar com texto jornalístico possibilita aos alunos:
• desenvolver a competência leitora e escritora, utilizando fatos do cotidiano que estão circulando na mídia, portanto atuais;
• trabalhar de forma contextualizada, levantando hipóteses e questionamentos sobre a complexidade da sociedade em que vivemos, buscando soluções para os problemas emergentes, compreendendo sua inserção histórica;
• ampliar seu repertório sobre o portador do texto-notícia – Por que ler jornais? Qual a importância da leitura de um jornal?;
• ter contato com diferentes mídias – no jornal, na revista e na Internet, lemos a notícia; na TV e no rádio, ouvimos a leitura do jornalista;
• identificar os diferentes posicionamentos das notícias e construir um posicionamento individual – Qual a relevância do que está sendo noticiado? Quando uma notícia é publicada na primeira página? O que significa estar na primeira página? Isso interfere na leitura? O procedimento de trabalho direto com a manchete, sem ler o texto, permite que o professor faça o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos e o que ainda
não sabem, possibilitando intervenções mais adequadas. Essa situação desperta neles o interesse em descobrir o assunto de que de fato o texto trata, ativando diferentes conhecimentos.
Assim, retomando o exemplo, diante da leitura da manchete, é possível questionar: de que fala o texto? O que é analfabetismo? Onde encontramos textos como esse? Por quê? A informação do texto é verdadeira ou não? Quem é o autor do texto? Que época o texto retrata? Com base na manchete, que idéia o autor vai desenvolver no texto? O autor está falando do analfabetismo de que lugar?
Na leitura da reportagem, é importante cada estudante ter cópia do texto para acompanhar a leitura, que pode ser feita com pausas para questionamentos: o que significa a palavra “Rio” em destaque? Quem são Irany e Karine? Que formação elas têm?E Pablo Gentile, quem é? Por que ele foi consultado? E Eduardo Pereira Nunes? O queé IBGE? Baseadas em quais fontes as autoras apresentam as informações? O que significa o ponto em negrito (sinal gráfico) no final da matéria? Que tipo de representação há no texto, além da escrita convencional? Por que o primeiro mapa está todo pintado e os outros apenas algumas partes? Por que a representação gráfica está dividida em seis desenhos menores? De que tratam as colunas? Essas e outras questões, durante a leitura compartilhada com os alunos, são importantes para que eles estabeleçam relações entre o que diz o texto, o que diz a manchete, o que sabiam antes, os conteúdos históricos trabalhados em sala de aula, as palavras desconhecidas (vocabulário), os gráficos e os mapas, levando-os a identificar vínculos e sentidos que as autoras tentaram dar ao texto e a necessidade ou não de complementação com pesquisas em outras fontes.
Tais procedimentos contribuem para que os estudantes possam:
• trabalhar de forma mais independente com o texto (intermediado por um ou mais colegas), sistematizando e organizando o pensamento e, conseqüentemente, ampliando seu conhecimento em relação à temática abordada;
• identificar quais foram os novos conhecimentos adquiridos na leitura;
• trocar impressões com os outros colegas;
• reconhecer suas próprias dificuldades/facilidades de leitura;
• organizar as idéias do texto e as suas por meio da escrita.
Em uma situação diagnóstica em relação à compreensão dos alunos a respeito do que diz o texto, é possível fazer perguntas de localização de informações, de interpretação e de opinião. Por exemplo: eles são capazes de colher informações do texto? Conseguem extrair dele o conceito de analfabeto funcional? Sabem dizer qual a falta de instrução mais acentuada na região Nordeste, qual a opinião do professor Pablo Gentile sobre o analfabetismo e qual região do Brasil apresenta o maior índice de analfabetos na faixa etária de 15 a 17 anos? Conseguem interpretar o texto identificando o que o professor Pablo Gentile quis dizer com “inclusão exclusiva” e por que não seria possível cumprir no próximo ano a meta do governo federal de erradicar o analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais de idade? Sabem expressar sua opinião a respeito do assunto, se concordam ou não com a reportagem de que há necessidade de reestruturar o Programa Brasil
Alfabetizado ou sugerir ações para a redução do índice de analfabetismo no Brasil?


Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora: caderno de orientação didática de História / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2006.



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