segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Procedimentos didáticos com diferentes linguagens e gêneros de texto


                PREFEITURA MUNICIPAL DE PARAUAPEBAS
         SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
                    DIRETORIA TÉCNICA PEDAGÓGICA
                   DIVISÃO DE ENSINO DE 3º E 4º CICLOS
  COORDENAÇÃO TÉCNICA PEDAGÓGICA DE HISTÓRIA

Procedimentos didáticos com diferentes linguagens e gêneros de texto

No esforço de pensar a relação entre os diferentes gêneros de texto e de linguagem e a construção de procedimentos didáticos de leitura e escrita no ensino de História, este material apresenta reflexões, propostas, exemplos, relatos e descrições de estratégias (e seus fundamentos) que podem ser avaliados e utilizados como referências para seu desenvolvimento em sala de aula.

Texto literário

Contos, romances, crônicas, epopéias são produções culturais da esfera literária que contribuem tanto para a formação de leitores como para estudos históricos. Ler com os alunos, por exemplo, A epopéia de Gilgamesh (ANÔNIMO, 2001), encarando-a como texto literário e ainda como documento histórico, requer considerar a importância de ensinar procedimentos de leitura ativa e colocar os alunos diante de determinadas questões que revelam sua historicidade. Se as tabuinhas de argila produzidas na Babilônia há 3.800 anos forem questionadas como documentos, testemunhas, evidências, indícios do contexto no qual foram produzidas, utilizadas ou reinterpretadas, podem remeter:
• ao suporte de escrita utilizado pela sociedade daquela época (o barro);
• à forma de registro feita sobre o suporte (desenho sobre a argila molhada, que é diferente de pintar sobre a argila já seca, como faziam os antigos chineses);
• ao desenvolvimento do sistema de notação de símbolos (escrita cuneiforme);
• ao tipo de escrita (pictográfica, ideográfica e/ou fonética e suas transformações com o tempo);
• ao que foi registrado por escrito (o texto e seu conteúdo);
• a quem registrou (a inserção social e política do escrevinhador, seu processo de formação, seu papel social);
• à função social desse texto e seu estilo (narrativa literária, diferente de um contrato de compra e venda, de um relatório de contabilidade ou de códigos legislativos);
• ao local onde as tabuinhas foram encontradas (em escavações arqueológicas na cidade de Nínive ou de Ur);
• à maneira como eram guardadas naquela época (em arquivo, biblioteca);
• ao local onde hoje elas estão sendo preservadas (no Museu Britânico, no Louvre e, por que não, em um museu do Iraque);
• a por que têm sido preservadas (por seu valor cultural, histórico ou econômico);
• ao significado que é atribuído a elas atualmente, por que e por quem.
São diversas as possibilidades de aprendizagem histórica com textos literários, e delas dependem as situações didáticas criadas pelo professor. A simples apresentação de um texto, com a possibilidade de ser lido e debatido em sala de aula, já amplia o repertório dos estudantes sobre obras e autores de determinada época. E, quanto mais variadas as informações sobre certo período, melhor ele pode ser caracterizado por sua especificidade e maior a probabilidade de ser diferenciado de outras épocas e suas características históricas.
O acesso ao texto, seja ele em cópia, obtido na Internet ou impresso em livro, permite ainda debater os suportes hoje existentes, que podem ser distintos dos usados originalmente pelos autores das obras. No caso de lidar com o próprio livro, é possível explorar a produção editorial (que pode ser de diferentes épocas e formatos) dando conta de materialidades gráficas do período da edição e da identificação dos profissionais nela envolvidos. Há ainda as variadas traduções e versões adaptadas para públicos e linguagens diversos; existem, por exemplo, versões de A epopéia de Gilgamesh em histórias em quadrinhos com super-heróis extraterrenos e livros infantis belamente ilustrados (ver ZENAN, 1997; STARLIN, 1991).
No caso das tabuinhas de argila da Mesopotâmia, fotos e visitas a museus contribuem para os estudantes materializarem os suportes de escrita antigos e se confrontarem com a diversidade de tipos de notação. Dependendo do aprofundamento do assunto, registros pictográficos, ideográficos ou silábicos podem ser estudados em suas especificidades históricas. Já o autor demanda importantes indagações e reflexões. Ele está presente no texto, mas ausente na realidade concreta do leitor. Assim, é preciso que aquele que lê recupere o autor ausente, tenha consciência de que há um criador que fala no texto, que o escreveu e que nele se expressa. Reconhecer a presença do autor é essencial para o leitor identificar o construtor do discurso, aquele que seleciona acontecimentos, opina, induz na seleção de palavras e construção de frases, emite valores, argumenta. O reconhecimento do autor transforma a leitura em um diálogo do leitor com o escritor e em uma comunicação entre épocas e entre universos culturais.



Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora: caderno de orientação didática de História / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2006.

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