PREFEITURA MUNICIPAL DE PARAUAPEBAS
SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO – SEMED
DIRETORIA TÉCNICA
PEDAGÓGICA
DIVISÃO DE ENSINO DE 3º E 4º
CICLOS
COORDENAÇÃO TÉCNICA
PEDAGÓGICA DE HISTÓRIA
Procedimentos didáticos com diferentes linguagens e
gêneros de texto
No esforço de pensar a relação entre os diferentes gêneros
de texto e de linguagem e a construção de procedimentos didáticos de leitura e
escrita no ensino de História, este material apresenta reflexões, propostas,
exemplos, relatos e descrições de estratégias (e seus fundamentos) que podem
ser avaliados e utilizados como referências para seu desenvolvimento em sala de
aula.
Texto literário
Contos, romances, crônicas, epopéias são produções culturais
da esfera literária que contribuem tanto para a formação de leitores como para
estudos históricos. Ler com os alunos, por exemplo, A epopéia de Gilgamesh (ANÔNIMO,
2001), encarando-a como texto literário e ainda como documento histórico,
requer considerar a importância de ensinar procedimentos de leitura ativa e
colocar os alunos diante de determinadas questões que revelam sua
historicidade. Se as tabuinhas de argila produzidas na Babilônia há 3.800 anos
forem questionadas como documentos, testemunhas, evidências, indícios do
contexto no qual foram produzidas, utilizadas ou reinterpretadas, podem
remeter:
• ao suporte de escrita utilizado pela sociedade daquela
época (o barro);
• à forma de registro feita sobre o suporte (desenho sobre a
argila molhada, que é diferente de pintar sobre a argila já seca, como faziam
os antigos chineses);
• ao desenvolvimento do sistema de notação de símbolos
(escrita cuneiforme);
• ao tipo de escrita (pictográfica, ideográfica e/ou
fonética e suas transformações com o tempo);
• ao que foi registrado por escrito (o texto e seu
conteúdo);
• a quem registrou (a inserção social e política do
escrevinhador, seu processo de formação, seu papel social);
• à função social desse texto e seu estilo (narrativa
literária, diferente de um contrato de compra e venda, de um relatório de
contabilidade ou de códigos legislativos);
• ao local onde as tabuinhas foram encontradas (em
escavações arqueológicas na cidade de Nínive ou de Ur);
• à maneira como eram guardadas naquela época (em arquivo,
biblioteca);
• ao local onde hoje elas estão sendo preservadas (no Museu
Britânico, no Louvre e, por que não, em um museu do Iraque);
• a por que têm sido preservadas (por seu valor cultural,
histórico ou econômico);
• ao significado que é atribuído a elas atualmente, por que
e por quem.
São diversas as possibilidades de aprendizagem histórica com
textos literários, e delas dependem as situações didáticas criadas pelo
professor. A simples apresentação de um texto, com a possibilidade de ser lido
e debatido em sala de aula, já amplia o repertório dos estudantes sobre obras e
autores de determinada época. E, quanto mais variadas as informações sobre
certo período, melhor ele pode ser caracterizado por sua especificidade e maior
a probabilidade de ser diferenciado de outras épocas e suas características históricas.
O acesso ao texto, seja ele em cópia, obtido na Internet ou
impresso em livro, permite ainda debater os suportes hoje existentes, que podem
ser distintos dos usados originalmente pelos autores das obras. No caso de
lidar com o próprio livro, é possível explorar a produção editorial (que pode ser
de diferentes épocas e formatos) dando conta de materialidades gráficas do
período da edição e da identificação dos profissionais nela envolvidos. Há
ainda as variadas traduções e versões adaptadas para públicos e linguagens
diversos; existem, por exemplo, versões de A epopéia de Gilgamesh em
histórias em quadrinhos com super-heróis extraterrenos e livros infantis belamente
ilustrados (ver ZENAN, 1997; STARLIN, 1991).
No caso das tabuinhas de argila da Mesopotâmia, fotos e
visitas a museus contribuem para os estudantes materializarem os suportes de
escrita antigos e se confrontarem com a diversidade de tipos de notação.
Dependendo do aprofundamento do assunto, registros pictográficos, ideográficos
ou silábicos podem ser estudados em suas especificidades históricas. Já o autor
demanda importantes indagações e reflexões. Ele está presente no texto, mas
ausente na realidade concreta do leitor. Assim, é preciso que aquele que lê
recupere o autor ausente, tenha consciência de que há um criador que fala no
texto, que o escreveu e que nele se expressa. Reconhecer a presença do autor é
essencial para o leitor identificar o construtor do discurso, aquele que
seleciona acontecimentos, opina, induz na seleção de palavras e construção de
frases, emite valores, argumenta. O reconhecimento do autor transforma a
leitura em um diálogo do leitor com o escritor e em uma comunicação entre
épocas e entre universos culturais.
Referencial de
expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora: caderno
de orientação didática de História / Secretaria Municipal de Educação – São
Paulo: SME / DOT, 2006.
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