SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO – SEMED
DIRETORIA TÉCNICA
PEDAGÓGICA
DIVISÃO DE ENSINO DE 3º E
4º CICLOS
COORDENAÇÃO TÉCNICA
PEDAGÓGICA DE HISTÓRIA
O ensino de História e os materiais didáticos
Qual a contribuição dos
materiais didáticos de História na formação de leitores e escritores? A fim de
abarcar a diversidade de recursos presentes nas aulas de História, pode-se afirmar
que os materiais didáticos são todos os textos, imagens, mapas, músicas, filmes,
objetos utilizados didaticamente pelo professor, que, além de auxiliá-lo,
servem de mediadores nas situações de ensino e de aprendizagem.
Qualquer material pode
ser mediador da relação do aluno com o conhecimento. Todavia, quando certo
material é selecionado e inserido em uma proposta de ensino pelo professor,
passa a ter uma finalidade específica, tornando-se material didático. Este pode
ser tanto um livro escrito e organizado por uma grande editora como textos e
imagens coletados em diferentes fontes e organizados pelo educador para uso nas
aulas.
Na esfera de circulação
escolar, há uma diversidade de produções sociais, entre elas os materiais
didáticos: textos, imagens, gráficos, mapas e exercícios, distribuídos e organizados
com base em uma finalidade social discursiva específica, ou seja, transmitir saberes
e valores sociais no âmbito da educação escolar. Eles se distinguem, portanto, de
outras esferas de discurso (como a jornalística e a literária) por ter um
objetivo propriamente seu: selecionar, organizar e difundir práticas, rotinas e
finalidades de leituras, que veiculam saberes formalizados e
institucionalizados e modelam, a seu modo, relações sociais, políticas,
culturais e históricas. Assim, tanto os livros didáticos publicados por
editoras como os mais diversos materiais selecionados por professores podem ser
associados à esfera de circulação escolar.
Variados gêneros de
texto e diferentes linguagens podem ser encontrados nos materiais didáticos de
História. Em um levantamento foi possível identificar a presença de charge,
caricatura, depoimento, entrevista, notícia, tira de quadrinhos, artigo de divulgação
científica, biografia, enunciado de questões, gráfico, mapa, planta, lei,
relato histórico, tabela, verbete de dicionário, verbete de enciclopédia,
imagens (obras de arte, fotografia e desenho de livro didático), esquema,
resumo, canção popular, conto, crônica, diário de viagem, diário pessoal,
lenda, mito, poema, provérbio e dito popular, propaganda, cartaz, sumário,
cronologia, linha do tempo, documento pessoal, discurso político.
A presença dessa
diversidade de materiais, gêneros e linguagens não implica, contudo, a frequência
de propostas que levam em consideração suas especificidades de leitura. A
grande maioria de imagens que circulam na esfera escolar, por exemplo, tem a
função de ilustrar as afirmações dos textos. Desse modo, apesar de nos livros
editados e nos materiais didáticos organizados por professores serem
encontrados diferentes textos e linguagens, o foco do educador tende a ficar
centrado no texto didático principal, sem preocupações maiores com a relação
que esses materiais estabelecem entre si e com sua inserção em determinada composição.
Contudo, a “forma” exprime, também, indícios de intencionalidades educativas e
discursivas, veiculando ideias de contextos e autores. São valiosas, portanto, as atividades que
estimulam os estudantes a preocupar-se com a leitura e a questionar a
diversidade do que é possível ler nas páginas impressas.
Nos materiais
didáticos, a relação entre os distintos textos fica explicitada pelo tema do
capítulo e/ou pelo texto principal do autor, pautado, em geral, de acordo com o
objetivo didático. E a diversidade de composição costuma ser construída com
base em variados modelos, que solicitam diferentes procedimentos de leitura e
de relações entre o texto principal e seus complementos. Com o objetivo de
problematizar com os estudantes o conjunto de relações entre
textos e linguagens nos materiais didáticos de História,
instigando a percepção de ideias também nas escolhas de composição de páginas e
dos materiais reunidos, sugerem-se como procedimentos:
Antes da leitura
• Identificação do que pode ser lido nas páginas.
• Identificação de diferentes gêneros de texto (títulos, legendas,
referências bibliográficas, textos
com proposta didática, consignas de exercícios, textos literários,
jornalísticos, cartas etc.).
• Leitura do título e subtítulos do capítulo – Quem escolheu o
título? Onde está escrito que é o autor do título? Há outras informações sobre
o autor do título ou subtítulo? O que já lemos sobre ele? Com base no título, o
que o autor quer debater? Qual o tema?
• Observação das imagens – Quem é o autor de cada imagem? Onde
está escrito quem é o autor? O que se vê nas imagens? O que elas contam? Quais
as semelhanças e diferenças entre elas? Quais seus estilos? Como foram
produzidas? Onde mais podem ser encontradas? Por que o autor do livro escolheu
essas imagens? Elas mantêm relações com o texto? Quais relações?
• Observação do formato de cada texto – Pelo formato, é possível
identificar o gênero
do texto (prosa, verso, texto jornalístico, texto didático)?
Durante a leitura de cada texto
• Qual a forma do texto? O que identifica o texto como poema,
prosa, texto jornalístico ou texto didático? Há outras formas de texto para
falar do mesmo tema?
• Há relações entre as imagens e o texto? Quais? O texto ajuda a
entender as escolhas
das imagens?
• De que trata o texto? O que é possível deduzir dele?
• Quais informações históricas podemos colher do texto?
Depois da leitura de todos os textos
• Voltar aos títulos e confrontar as hipóteses e as descobertas.
• Solicitar a opinião dos alunos a respeito da articulação do
título do capítulo e dos textos. Quais seriam outros títulos possíveis?
• Questionar quais as relações entre os textos.
• Retomar quem é o autor e propor pesquisas para conhecê-lo melhor
e também suas obras. Onde podemos encontrar mais informações sobre o autor?
• Retomar as imagens. Como podemos saber mais sobre elas?
• Retomar o estilo do texto. Há outra(s) maneira(s) de escrever o
mesmo tema? Qual(is)?
• Retomar o tema e as informações históricas – Quais informações
apresentadas são importantes para nosso estudo? Conhecemos informações que não
estão no texto? Quais? O que poderia ser acrescentado ao tema com outras
pesquisas?
• Retomar as hipóteses iniciais e comparar. A leitura de textos,
imagens, mapas, gráficos etc. dos diferentes materiais didáticos desencadeia
também possibilidades de escritas. Por exemplo, é possível:
• anotar as hipóteses iniciais e os conhecimentos prévios;
• sistematizar as informações colhidas dos textos;
• escrever interpretações para textos, imagens, gráficos, mapas
etc.;
• reescrever os textos;
• complementar o que foi estudado com pesquisas;
• produzir textos nos estilos dos textos lidos.
A formação de leitores
questionadores e reflexivos perpassa, assim, a aprendizagem de como questionar
e como estar atento às ideias imersas nas complexas dimensões dos diferentes
gêneros de texto, dos contextos em que se inserem e das autorias, nas formas,
nas relações e na diversidade de linguagens em que se expressam.
O procedimento didático
aqui apresentado propõe questionar quem é o autor, quais os gêneros de texto
encontrados, qual a relação entre textos, imagens, mapas, gráficos etc. Por
exemplo, nos livros é frequente encontrar legendas, que demandam do leitor o
conhecimento de sua função e de sua relação com outros elementos da página. As
legendas podem complementar o texto principal, ser dependentes dele ou provocar
questões que remetem à leitura de imagens, mapas, gráficos.
Da perspectiva
didática, a leitura de legendas (ou de textos, imagens, mapas, tabelas) pode
ser associada à leitura de outros elementos da página. Nesse caso, elas podem ser
lidas antes, durante ou depois da interpretação de outras fontes de informação,
ressaltando-se sua função, sua especificidade de texto e as diferentes
perspectivas que podem assumir, de acordo com a posição teórica do autor – em sua
argumentação histórica ou em suas proposições didáticas. Uma gravura sobre a
escravidão pode ser seguida de diferentes legendas, dependendo do livro, de sua
época, do contexto histórico estudado ou da autoria. Nesse caso, o
professor pode também desenvolver atividades de confrontação de legendas
criadas para uma mesma imagem ou mapa presentes em variados materiais
didáticos.
A legenda de uma imagem
pode revelar sua dissociação com o contexto histórico abordado no texto
principal. Em um livro didático de História do início da década de 1960, uma
gravura de página inteira traz a seguinte legenda: “Cena típica do Brasil no
século XVIII (detalhe de um desenho de Rugendas)” (HERMIDA, 1963, p. 88). Como
se sabe, esse pintor esteve no Brasil no início do século XIX. Então, por que a
legenda fala do século XVIII? E qual sua relação com o tema do capítulo, o
governo-geral no Brasil no século XVI? Será que as escolhas editoriais e do
autor podem ser debatidas com estudantes em prol de uma leitura crítica e de
estudos que favoreçam a eles a preocupação com a marcação de tempo?
Referencial de expectativas para o
desenvolvimento da competência leitora e escritora: caderno de orientação
didática de História / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT,
2006.
*** Este material esta disponível
em: semedhistoria.blogspot.com
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