Prezadas(os) associadas(os) e colegas, Somos demandados a todo o momento por explicações e às vezes até previsões sobre os muitos e velozes acontecimentos que permeiam as experiências sociais em diferentes tempos e espaços. Pensarmos nas múltiplas maneiras de formação histórica na atualidade não se configura em tarefa fácil, requer um olhar atravessado por outros referenciais de tempo, de identidade, de memória e também de história. Numa sociedade marcada por inúmeras linguagens, possibilidades e formas de ver, sentir e apreender o mundo, quais referenciais explorar? Como fazer dialogar demandas, expectativas e limites interpostos ao trabalho diário com a construção do pensamento histórico, de modo específico, no espaço da educação escolar? O que consideramos fundamental ao professor ensinar e aos alunos aprenderem nas aulas de História? Entendemos que essas indagações expressam inquietações de diferentes sujeitos que atuam em diversos espaços da sociedade, mas, especialmente, dizem respeito aos profissionais de História e, por isso, sobre elas propomos dialogar neste boletim. Ao conjunto dessas indagações podemos relacionar uma ampla gama de aspectos, como por exemplo: o papel do conhecimento histórico na contemporaneidade; a sua natureza formativa; seu lugar no currículo escolar; a necessidade da definição de conteúdos ou a construção de parâmetros sobre o que ensinar em um país tão diverso; a formação de profissionais capazes de responder de forma coerente e condizente às demandas apresentadas; e as relações indissociáveis entre a atuação dos professores nos diferentes níveis da educação básica e aqueles que atuam no ensino superior, na formação inicial. Ao apontarmos algumas das múltiplas e complexas dimensões que constituem as perguntas acima, nossa intenção é chamar a atenção da área e dos que nela atuam para a necessidade urgente da reflexão sobre uma das mais importantes dimensões do trabalho do Historiador em nosso país o Ensino no momento mesmo em que o lugar da disciplina é colocado em discussão. No atual contexto de reordenamentos político-educacionais dirigidos aos diferentes níveis da organização escolar, nos deparamos com a exclusão da História dos currículos dos primeiros anos de escolarização sob a justificativa da necessidade de maior espaço para o trabalho com aquisição e domínio da leitura, da escrita e do desenvolvimento do raciocínio matemático; com a diminuição da quantidade das aulas de História nos anos finais do ensino fundamental para implementação de projetos pedagógicos ou de disciplinas que, nomeadas de diferentes formas, são destinadas a trabalharem temáticas como ética, cidadania, cultura, diversidade, entre outras; com a ausência de uma ampla discussão sobre as reformas curriculares que têm ocorrido por todo o país, após o longo período de implantação com as devidas adaptações e negações das orientações expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, desde a segunda metade da década de 1990. A tríade formação, currículo e prática docente configura um contexto de embates acadêmicos, políticos e institucionais que, a despeito das conquistas alcançadas nas últimas décadas quanto à qualificação e valorização da disciplina História no cotidiano escolar, vem deixando em constante estado de alerta os profissionais que trabalham nas diferentes instâncias educacionais. As reformas educacionais que compõem a atual agenda para o ensino médio, por exemplo, propugnam um novo perfil para esse nível escolar, ao ter se tornado etapa conclusiva da Educação Básica após a LDB 9394/96. Compõe ainda tal formulação um currículo organizado por áreas de conhecimento baseado nos princípios da flexibilização, interdisciplinaridade e contextualização que objetiva não a eliminação dos conhecimentos específicos advindos das disciplinas tradicionais do currículo, mas a sua articulação através de práticas pedagógicas que transformem conhecimentos compartimentados em saberes significativos para a formação dos alunos. As orientações apresentadas nos documentos oficiais apontam como objetivos a busca de identidade pedagógica e o sentido formativo para o ensino médio. Por outro lado, as discussões suscitadas em diferentes espaços como escolas, universidades, sindicatos e associações afirmam a necessidade de uma ampla discussão na sociedade para o aprofundamento de tais questões, tendo em vista seus desdobramentos na organização escolar e as perspectivas de formação para as futuras gerações. Em relação à disciplina História, entendemos que a discussão não passa apenas pelo quantitativo da carga horária semanal que lhe será destinada, embora seja este um elemento importante no cotidiano da escola e para o trabalho do professor, mas, principalmente, pelas definições quanto ao papel do conhecimento histórico na formação de sujeitos capazes de "ler o mundo", como nos dizia Paulo Freire, e nele atuar em sua plena cidadania. As questões acima apontadas não passam ao largo das discussões dos profissionais de História, pelo contrário, compõem as preocupações de um conjunto significativo das pesquisas sobre o ensino de História, sobretudo, no que diz respeito ao lugar do saber histórico escolar na educação básica e ao diálogo ou a ausência deste com a prática docente, na formação inicial dos futuros professores. Para além das problemáticas que nos suscitam inquietações e chamamentos a uma atuação comprometida com a construção do conhecimento histórico nos diferentes lugares de sua produção, cabe-nos também destacar as conquistas obtidas pelas lutas de valorização e investimentos na formação docente, a exemplo do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência). Este programa prevê a melhoria na formação dos futuros professores das diferentes áreas do conhecimento através da inserção do licenciando no universo escolar, sob a orientação de um professor do curso de graduação ao qual está vinculado, para o desenvolvimento de projetos pedagógicos em conjunto com a professora, os alunos e a comunidade escolar. No que concerne a tal iniciativa vale salientar a importância das relações que se estabelecem entre os distintos espaços de formação e, mais ainda, entre os diferentes sujeitos alunos licenciandos e crianças, jovens e adultos das escolas, professores das universidades e das escolas, supervisores e gestores de ambas as instituições. No entanto, cabe-nos, do mesmo modo, chamar a atenção para que o objetivo do programa não se modifique ao longo da sua existência transformando-se em mais um lugar de pesquisa sobre os professores e a educação escolar e menos em um espaço de problematização sistemática das práticas docentes. Ressaltamos aqui as possibilidades de um diálogo profícuo entre as experiências acadêmicas e escolares; entre os conhecimentos da teoria e metodologia da História adquiridos na formação inicial e suas indissociáveis relações com as especificidades que constituem o trabalho com o saber histórico escolar. Desse modo, consideramos que as preocupações e os questionamentos que se propagam pelo país afora acerca das dificuldades e das possibilidades que envolvem o trabalho com a formação inicial e continuada dos professores de História, bem como sua atuação nos diferentes níveis da escolarização básica e superior devam ser incentivadas em iniciativas que agreguem discussões coletivas. Com o objetivo de contribuir para o aprofundamento dessas discussões e, eventualmente, estabelecer estratégias de ação para a nossa área, a ANPUH/BR e o GT de Ensino de História e Educação estão organizando uma jornada de debates a ser realizada no dia 29 de maio, no departamento de História da USP (Jornada de História - Currículo da Educação Básica e Formação do Historiador: questões atuais e perspectivas). Fica assim, o nosso convite! Em breve divulgaremos no site e no Facebook da ANPUH o programa desse evento, que pretendemos transmitir online para facilitar a participação de todos os interessados. Saudações a todas(os) Diretoria da ANPUH/BR |
terça-feira, 6 de maio de 2014
Informe ANPUH
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