segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Uso Adequado do Livro Didático

Numa pesquisa nacional sobre 50 temas estratégicos mais importantes, buscando-se medir a
percepção da sociedade com relação ao nosso futuro, os resultados indicaram, a "melhoria da
qualidade da educação básica do Brasil" como o principal anseio da população. É um anseio
de caráter inovador, que aponta para a construção de um futuro promissor para o Brasil, ao
destacar o conhecimento como o fator propulsor do desenvolvimento de um país. Sem dúvida,
a   qualidade   da   educação   básica   é   uma   necessidade   premente.  Os   avanços   no   acesso   à
educação, a redução das taxas de evasão e o aumento no número de matrículas não impediram
que o Brasil  ocupasse um dos últimos  lugares na pesquisa mundial  sobre desempenho de
estudantes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA –, da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Melhorar a educação básica significa
definir o conhecimento como a questão central da sociedade, valorizar a escola e o professor,
aprimorar as condições de ensino e oferecer facilidades para que alunos e professores possam
se dedicar com prazer à tarefa de construção e utilização do conhecimento. E, na busca de
soluções para a melhoria do ensino básico, qual é a contribuição do livro didático?
Um bom projeto educacional exige um professor atuante, com uma prática que se apropria da
realidade   como   instrumento   pedagógico   e   que   utiliza   os  materiais   didáticos   disponíveis,
incluindo o livro didático,  de forma apropriada e devidamente contextualizada no processo
ensino-aprendizagem. Muitas vezes o livro didático é a única referência para o trabalho do
professor, passando a assumir até mesmo o papel de currículo e de definidor das estratégias de
ensino. O livro torna-se assim um importante suporte de conhecimentos e de métodos para o
ensino,   servindo   como   orientação   para   as   atividades   de   produção   e   reprodução   de
conhecimento. Portanto, os livros didáticos não podem veicular preconceitos e estereótipos,
nem  conter   informações   erradas   ou   desatualizadas.  E,   evidentemente,   devem  respeitar   a
legislação vigente,  como o Estatuto da Criança e do Adolescente ou a Lei  de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/96 – que preconiza como princípios do ensino a
“liberdade de aprender,  ensinar,  pesquisar  e divulgar  a cultura,  o pensamento,  a arte e o
saber”,  o  “pluralismo de  idéias   e de concepções  pedagógicas”,  o  “respeito  à  liberdade  e
apreço à tolerância”, a “garantia do padrão de qualidade”, a “valorização da experiência extra-
escolar” e a “vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. Os livros
didáticos devem favorecer o diálogo,  o respeito e a convivência,  possibilitando a alunos e
professores o acesso a informações corretas e necessárias ao crescimento pessoal, intelectual e
social dos atores envolvidos no processo educativo.
O MEC  tem procurado  um  aprimoramento  e  melhoria   da  qualidade  dos   livros  didáticos
através  do processo de avaliação e distribuição do PNLD – Programa Nacional  do Livro
Didático. O livro didático também tem sido objeto de constante debate e pesquisa no meio
acadêmico. Como resultado se espera livros cada vez mais próximos das demandas sociais e
coerentes com as práticas educativas autônomas dos professores.  Entretanto,  o universo de
referências do professor e do aluno não pode esgotar-se no uso restrito do livro didático. O
livro   deve   contribuir   para   que   o   professor   organize   sua   prática   e   fornecer   sugestões   de
aprofundamento das concepções pedagógicas desenvolvidas na escola. O livro deve oferecer
uma orientação para que o professor busque, de forma autônoma, outras fontes e experiências
para complementar seu  trabalho.  Deve garantir ao professor  liberdade de escolha e espaço
para que ele possa agregar ao seu trabalho outros instrumentos. E o professor não pode se
transformar em refém do livro, imaginando encontrar ali todo o saber verdadeiro e a narrativa
ideal.  Sim,   pois   o   livro   é   também  instrumento   de   transmissão   de   valores   ideológicos   e
culturais,  que pretendem garantir  o discurso supostamente verdadeiro dos autores.  Em um
processo pouco dinâmico como o que se estabelece no sistema tradicional de ensino, cria-se
um círculo vicioso:  o professor  torna-se um reprodutor  desses mitos e  imagens errôneas e
passa,  ele  também,  a acreditar  neles.  Para construir  uma opinião própria e  independente é
importante a leitura de textos complementares, revistas especializadas e livros disponíveis na
biblioteca da escola,  da cidade,  dos  alunos,  dos  amigos,  etc.  Todos  os   livros  apresentam
problemas e o professor deve estar sempre atento para trabalhar eventuais incorreções.

Antônio Carlos Pavão


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